quarta-feira, junho 09, 2004

Carta de um Aluno do ISEGI aos Pais

Querido Pai e Querida Mãe:

Já faz 6 anos que estou na Universidade, e demorei muito tempo a escrever-vos, peço desculpa pela demora, mas agora vou colocar as notícias em dia.
Agora já estou melhor, da fractura e do traumatismo craniano ao pular da janela do meu quarto em chamas, passei só duas semanas no hospital, a minha visão está quase normal e aquelas terríveis dores de cabeça só voltam de vez em quando. Como o incêndio foi causado por um descuido meu, teremos que pagar à Universidade 5 mil contos pelos danos causados, mas o importante é que eu estou vivo. Felizmente, a empregada que trabalha na lavandaria em frente, viu tudo, foi ela quem chamou a ambulância e avisou os bombeiros, também me foi visitar ao hospital, e como eu não tinha para onde ir, já que meu quarto ficou reduzido a cinzas, teve a gentileza de convidar-me a viver com ela. Na verdade é um quarto no sótão, mas é muito agradável. Ela tem o dobro da minha idade, estamos perdidamente apaixonados e queremos casar. Apesar de não termos ainda fixado a data, espero que seja antes que a gravidez seja muito evidente. Pois é, queridos pais, vou ser papá. Sabendo que vocês sempre quiseram ser avós, tenho a certeza de que acolherão muito bem as crianças (são gémeos), com o mesmo amor e carinho que me deram quando eu era pequeno.
A única coisa que ainda está a atrapalhar a nossa relação é uma pequena infecção que minha noiva apanhou, e que nos impede de fazer os exames pré-matrimoniais. Eu também, por descuido, acabei por me infectar, mas estou melhor com as doses diárias de penicilina que agora estou a tomar. Sei que vocês a receberão com os braços abertos na nossa família. Ela é muito amável e, apesar de não ter estudado, tem muita ambição.
Apesar de não seguir a nossa religião, tenho a certeza que vocês vão ser tolerantes e que a amarão tanto quanto eu. Como ela tem mais ou menos a sua idade, mãe, de certeza que se darão muito bem e que se divertirão muito juntas pois, como a casa onde vivemos é muito pequena, pretendo voltar para casa com a minha nova família. Os pais dela também são pessoas muito boas. Parece que o pai dela foi um marceneiro famoso na aldeia africana de onde eles vieram.
Agora que já sabem de tudo, é preciso que lhes diga que não ocorreu nenhum incêndio, não tive nenhum traumatismo craniano, não estive hospitalizado, não tenho noiva, não tenho sífilis e que não há nenhuma mulher em minha vida.

Mas na verdade é que tirei 5 a Teoria Prática de Sondagens, 6 a Econometria Aplicada, 5 a Base de Dados e faz dia 1 de Julho um ano que não faço cadeira nenhuma! E quis mostrar-vos que existem coisas bem piores na vida do que notas baixas.

Com um beijinho pá mãe e um abraço pó pai,

O vosso filho,

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